Porque tem de ser tabu? Sexo é isto!

O maior tabu do mundo é cercado de preconceitos e medos.

Inês Piteira
6 min readMar 28, 2021

Podemos afirmar, com todas as certezas, que não existem pessoas que nunca se tenham questionado a respeito da sua sexualidade, sendo que, o sexo, é um dos aspetos fundamentais para o desenvolvimento dos seres humanos, seja por questões fisiológicas ou até mesmo em aspetos cognitivos.

Mas debatemos-nos sempre com uma questão à cerca deste tema: porque é que é tão difícil falar de algo quando fomos geneticamente criados para o fazer?

A maioria da população, devido ao facto de este tema ser pouco falado na nossa sociedade, começa a desenvolver inseguranças ou ficam com perguntas que dificilmente lhes vão ser esclarecidas.

Comunicação é importante sim!

Definição de comunicar.

“Comunicar” — Algo que somos ensinados desde pequenos a fazer mas, quando chega à hora H, pode não ser assim tão fácil.

Antes ainda de falarmos de intimidade, é essencial falarmos da forma como os casais ou parceiros sexuais comunicam entre si. A falta de comunicação numa relação está associada ao problema por de trás da vida sexual dos indivíduos. Muitas pessoas têm vergonha de conversar sobre este tema pois, muitas das vezes não sentiram abertura para falar ou aprender quando eram jovens.

No caso dos homens é mais fácil, eles sentem que para eles o sexo não é um bicho de 7 cabeças e têm facilidade em falar dele como quem fala de futebol. Por norma, os rapazes só têm mais dificuldade em comunicar se tiverem complexos com o tamanho do seu orgão genital ou se ejacularem rápido. Tirando isso, eles sentem abertura para falar do assunto, maioritariamente com amigos do que com adultos.

No caso das mulheres, existe um grande desconhecimento do seu corpo, talvez porque a sexualidade feminina foi muito castrada ao longo dos tempos. Devido a isso, grande parte das mulheres sentem dificuldade em falar, talvez por medo do que o parceiro sexual possa achar.

Muitas vezes, por não existir comunicação, seja por parte de pais, professores ou algum adulto, perde-se o fio conector e a pessoa acaba por recorrer a outros tipos de informação, principalmente da internet, que acaba por ser um mecanismo errado pois, muitas vezes serão coisas fictícias, como a pornografia, que traz uma realidade que não existe.

Falemos de pornografia

Definição de pornografia.

Existem vários estudos que nos indicam que a procura por este tipo de conteúdos tem vindo a entrar mais cedo na vida de adolescentes, afetando-os, dando expectativas irreais da sua vida sexual mas, infelizmente, muitas das vezes, a pornografia será a única educação sexual que estes jovens algum dia receberão

Hoje em dia, estes estímulos visuais possuem um grande impacto no mundo que nos rodeia, seja em revistas, filmes ou até mesmo no mundo do marketing para publicitar produtos. Mas temos outra questão: será que já repararam que a maioria desta industria pornográfica gira em torno de dar satisfação aos homens do que às mulheres? Existe uma estimativa que nos indica que, da quantidade de adultos que entram em sites de pornografia anualmente 28% são do sexo feminino, sendo a grande maioria o sexo masculino, nomeadamente, 72%.

Alguns especialistas afirmam que os jovens que têm tendência a ver este tipo de conteúdos com frequência, podem começar a desenvolver expectativas irrealistas sobre as relações sexuais que irão ter ou mesmo sobre a aparência e o comportamento sexual dos seus parceiros. Estes jovens, também poderão ter dificuldades em ter relacionamentos e sentirem-se sexualmente satisfeitos nos mesmos.

Testemunhos

Aqui apresento testemunhos reais de pessoas que preferiram não revelar a sua identidade quando questionadas com as seguintes perguntas:

1 - Acha que existe uma grande dificuldade, na hora do sexo, as pessoas comunicarem entre si? Por exemplo, dizerem que não gostam de certas coisas?

“Acho que isso depende de pessoa para pessoa. Eu, se algo me está a deixar desconfortável digo porque se não estiver a ter prazer sinto que não vou conseguir dar prazer pois, não estou no meu melhor desempenho. Mas acredito que seja para não deixar a outra pessoa desconfortável, do tipo “ não faças isso”, como se a pessoa não soubesse o que faz.” TESTEMUNHO ANÓNIMO : Rapaz, 23 anos.

“Eu acho que isso depende de pessoa para pessoa. Para mim não existe essa dificuldade mas percebo que exista quando se calhar não conheces bem com quem estás a fazer sexo e não tens confiança para lhe dizeres. Também há o problema de não queres “magoar” o ego masculino que é demasiado frágil.” TESTEMUNHO ANÓNIMO : Rapariga, 26 anos.

2 - Acha que adultos, pais ou até mesmo professores, passam a informação correta aos adolescentes sobre relações sexuais?

“Não, o tema sexo ainda é muito tabu. Dizem o que é um preservativo, a pílula e nada mais. Não explicam mais nada. 90% dos jovens quando se fala em usar preservativo pensam que é só para impedir uma gravidez, por exemplo, nunca se lembram das Doenças Sexualmente Transmissíveis.”TESTEMUNHO ANÓNIMO : Rapaz, 23 anos.

“Pergunta complicada. Acho que não existe praticamente educação sexual nas escolas. Eu tive no 12º ano e achei que explicaram bem mas, não falavam de relações sexuais sem ser heterossexuais, o que é um ponto a menos, na minha opinião. Sobre os pais, muita gente não se sente confortável a ter esse tipo de conversas com eles nem, muitos dos nossos pais, querem falar connosco sobre isso porque vamos ser sempre os bebés deles.”TESTEMUNHO ANÓNIMO : Rapariga, 26 anos.

3 - Acha que os adolescentes acabam por ficar com informações erradas, por consultarem sites de pornografia para entenderem mais o que é o mundo sexual?

“Sim, porque muitos se iludem pelo desempenho sexual e as ejaculações “vulcânicas” que esses atores têm. As pessoas não percebem que aquilo é tudo à base de químicos e tudo mais e , isso acaba por rebentar muitas vezes com a auto estima dos jovens, especialmente homens, porque têm relações sexuais de 5 minutos e já acabou. Não sabem ter controlo e fazer pausas para aguentar mais, fazem como nos filmes.”TESTEMUNHO ANÓNIMO : Rapaz, 23 anos.

“Sem duvida alguma! Nada na pornografia é real! Os homens não ficam eretos durante duas horas, nem as mulheres se veem exatamente ao mesmo tempo que os homens. A pornografia cria expectativas irreais na mente dos jovens.”TESTEMUNHO ANÓNIMO : Rapariga, 26 anos.

4 - Acha que se houvesse uma maior abertura entre adultos e adolescentes, as classes mais jovens começavam a ver as relações sexuais com outros olhos? Por exemplo, nem sempre atingir o orgasmo ou começar a vida sexual mais tarde.

“Acho que sim. Cada vez os adolescentes perdem a virgindade mais cedo, sem estarem preparados, só por medo de “ficar para trás “ no grupo de amigos ou que o parceiro os troque por alguém que esteja disposto a fazer. Acho que as pessoas não se respeitam nem aos próprios corpos muitas vezes.”TESTEMUNHO ANÓNIMO : Rapaz, 23 anos.

“Sinceramente acho que sim. O facto de o sexo continuar a ser um tabu tão grande não ajuda ninguém, apesar de achar que estas novas gerações já são mais abertas a falar das suas experiências. Acho que podíamos acabar de todo com o tabu, porque não entendo o mal de eu, por exemplo, falar com as minhas amigas sobre o novo vibrador milagroso que comprei ou elas falarem de experiências sexuais que tiveram. Essa comunicação de experiências ajuda toda a gente porque, quanto mais alargada for a nossa visão do “mundo”, vamos, cada vez menos, sentir a necessidade de ficar calados quando algo acontece que não gostamos ou algo que queremos fazer.”TESTEMUNHO ANÓNIMO : Rapariga, 26 anos.

A adolescência é a melhor altura para abordar questões como as doenças sexualmente transmissíveis, a prevenção da gravidez, o consentimento e a indústria pornográfica, nomeadamente o papel das mulheres e as questões que envolvem esse mercado. Tratar o sexo como um tabu, apenas proporciona o desconhecimento por parte dos jovens e não os ajuda em nada, apenas o contrário, aprofundam-se mais os problemas em torno da vida sexual.

Deixo aqui o episódio do Podcast SHOTGUN! onde, à conversa com André Sequeira, abordamos vários temas ligados à vida sexual.

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Inês Piteira

Estudante de Marketing, Publicidade e Relações Públicas